Portuguese English Spanish

Coisas que você não sabia sobre seu cérebro?

05 Maio 2015
Author :   Prof. Dr. Michael Luiz

Ele vai além dos neurônios!

Quando falamos no encéfalo (mais popularmente conhecido como cérebro), logo pensamos em neurônios. 

Afinal, quem não já pensou ou disse após grandes períodos de estudos ou de reflexões expressões como: meus neurônios estão doendo.Pois bem, quando usamos o cérebro, tem muito mais células trabalhando além dos neurônios. Elas são conhecidas como as células da glia e talvez até fiquem remoendo lá dentro das nossas cabeças pela indiferença com que as tratamos. Vistas inicalmente em 1824, essas células já foram consideradas como somente preenchedoras de espaços vazios, células acessórias dos neurônios, e hoje, com o avanço das técnicas de pesquisa (recombinação genética, bloqueio seletivo de proteínas, trasnfecção viral), sabemos que a relação glia-neurônio está mais para um dueto do que um show de um único astro.

Mas quais células fazem parte da glia? A lista é grande, e cada uma delas parece exerce várias funções dentro do cérebro. A divisão entretanto ainda é um pouco confusa para o grande público, mas sem entrar nesse mérito de classificação, podemos citar as mais estudadas: astrócitos, microglia, oligodendrócitos, tanicitos, células NG2, glia radial, glia de bergmann, glia de Müller, células de Schwann.

Várias pesquisas recentes vem mostrando a participação delas em diversas fuções cognitivas e comportamentais que antes eram tidas como pertencentes somente a atividade neuronal. A aquisição de novos conhecimentos e a formação da memória por exemplo, estam diretamente ligadas a formação de novas sinapses, o que por sua vez é diretamente regulada e influenciada pelas células da glia. De forma bem resumida, enquanto os astrócitos liberam substâncias que estimulam a formação de novas sinapses e a sobreviência das mesmas, as células da microglia eliminam as sinapses que não são necessárias. Além disso, também já foi observado que as células da microglia são capazes de reforçar as sinapses sem que os neurônios sejam ativados e estudos também mostram que as células NG2 são capazes de modular as sinapses. E quando estamos com fome? Um recente trabalho mostrou que os astrócitos são capazes de responder de forma independente a váriação de glicose, e mudar o comportamento alimentar do organismo.

Outros trabalhos mostram o envolvimento também da microglia e um grande número de pesquisas relatam o envolvimento dos tanicitos tanto no controle do metabolimo energético, como na regulação de funções sexuais. Com relação a fome ainda, se discute que a obesidade, além da participação dos fatores endócrinos, seja desencadeada pela impossibilidade da formação de novos neurônios numa região específica no encéfalo à partir dos tanicitos por causa de fatores inflamatórios liberados possívelmente por células da microglia. Há quem diga também que esses novos neurônios possam ser originados não somente pelos tanicitos, mas também pelas células NG2. Falando nas células NG2, quando o assunto se trata de novidades, elas estão na frente. Tidas por muito tempo como progenitoras de oligodendrócitos, essas células parecem ter propriedades muito semelhantes com as células-tronco, podendo dar origem a neurônios e outros tipos de células da glia, mas esses achados são tão recentes no mundo da ciência, que os estudos precisam ainda de um tempo para serem corroborados por outras técnicas e outros grupos de pesquisa. Outra área de atuação das células da glia esta ligada a gliotransmissão.

Por muito tempo, considerou que somente neurônios trocavam informações mediante a liberação de neurotransmissores. Hoje sabemos que nesse bate-papo celular, as células da glia também dialogam liberando substâncias chamadas gliotransmissores, capazes de afetar atividade do cérebro. Quando vamos para a parte das doenças, a lista de estudos com células da glia só cresce. Temos achados mostrando a participação dos astrócitos até como reservatórios do vírus HIV no sistema nervoso central. Tanto doenças como Alzheimer e Parkinson parecem ter um compente de inflação diretamente ligado com a atividade da microglia e dos astrócitos. Alterações na função dos oligodendrócitos parecem estar bem ligadas com o surgimento da esquizofrenia. A epilepsia ao que tudo indica seria decorrente de alterações na função dos astrócitos, assim como a depressão. A obesidade como já mencionada anteriormente, estaria implicada também com uma falha na formação de novos neurônios a partir de tanicitos, ou talvez de células NG2.

Vários tumores no cérebro são originados pela proliferação excessiva de astrócitos ou de células NG2. O conhecimento sobre essas células é tanto, que seria impossível descrever todo aqui, mas aproveito para ressaltar pontos muito importantes das células da glia: alta plasticidade, capacidade de proliferação maior que os neurônios, atuação em diversas funções. É importante também lembrar que dentro do sistema nervoso, tanto a glia como os neurônios precisavam funcionar em harmonia para que as funções cerebrais estejam em ordem, não se podendo falar qual destas células é a mais importante, e possívelmente nossa forma de visão do cerebro mude drásticamente no futuro. Mais informações sobre as células da glia estão disponíveis no site GliaNews, assim como pesquisas recentes, eventos e entrevistas.

Onde saber mais?

Entrevista Drª Penha Cristina
https://www.youtube.com/watch?v=GQCCs8BfqHk

The Importance of Glia in Dealing with Stress.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25455071

Glia: dos velhos conceitos às novas funções de hoje e as que ainda virão.
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142013000100006&script=sci_arttext

Selective Activation of Microglia Facilitates Synaptic Strength.
http://www.jneurosci.org/content/35/11/4552.full.pdf+html

Hypothalamic tanycytes: potential roles in the control of feeding and energy balance
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3605593/

Astrocytes Control Food Intake by Inhibiting AGRP Neuron Activity via Adenosine A1 Receptors
http://www.cell.com/cell-reports/pdf/S2211-1247%2815%2900377-0.pdf

Cell-to-cell contact facilitates HIV transmission from lymphocytes to astrocytes via CXCR4.
http://journals.lww.com/aidsonline/Abstract/2015/04240/Cell_to_cell_contact_facilitates_HIV_transmission.1.aspx

Myelin, myelin-related disorders, and psychosis.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25449713

Gliomas and the vascular fragility of the blood brain barrier
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25565956

 

  • Rua Marquês de São Vicente, 225. Prédio Cardeal Leme, sala 201L
  • 21-3527-1968
  • 21-3527-1187
  • O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Fotos Recentes

Fale Conosco

  Mail is not sent.   Your email has been sent.
Top