Hoje sabemos que a atividade física altera a estrutura e o funcionamento do cérebro. No entanto, ainda não está claro como o treinamento esportivo em longo prazo afeta a cognição dos atletas. A cognição é o processo através do qual nós adquirimos conhecimento; ela envolve habilidades como percepção, atenção, memória, raciocínio, imaginação e linguagem.
Ao longo dos últimos 15 anos, o voleibol brasileiro dominou o mundo. O voleibol é uma modalidade esportiva com uma grande demanda cognitiva. É um esporte que exige deslocamentos sincronizados entre os membros de uma mesma equipe, tanto com a posse quanto sem a posse da bola, no sentido de atacar ou se defender, respectivamente. Além disso, requer dos atletas uma habilidade elevada no trato com a bola, através de diferentes fundamentos (saque, defesa, levantamento, manchete, bloqueio e ataque). Ao longo de uma partida, os jogadores precisam prever as ações de jogo que vão evoluindo e se antecipar para aplicar a técnica adequada. Isto implica na implementação de soluções cognitivas imediatas e precisas para obter êxito em cada etapa do jogo.
Mas, afinal, o que medalhistas olímpicos têm de diferente? O que acontece com o cérebro de um atleta de alto rendimento?
Com esta pergunta em mente, os pesquisadores Heloisa Alves, Victor Cossich e José Inácio Salles (PNeuro/INTO), em parceria com a Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) e com a Universidade de Illinois nos EUA, visitaram o Centro de Desenvolvimento de Voleibol (CDV) em Saquarema em 2008, alguns meses antes das Olimpíadas de Beijing. Lá, eles avaliaram 87 jogadores profissionais de voleibol, de 6 seleções diferentes (masculina e feminina, de base e adulta). Com o auxílio de computadores e software especializado, os pesquisadores avaliaram o funcionamento cognitivo dos atletas através de testes de atenção, memória e flexibilidade cognitiva.
Eles descobriram que os atletas eram capazes de inibir seu comportamento, ou seja, parar rapidamente uma ação quando precisavam, o que é fundamental no esporte e na vida diária. Eles também eram capazes de captar informações no ambiente e alternar entre tarefas de forma mais precisa e rápida do que não-atletas.
Outro resultado interessante foi que no grupo de atletas, não houve diferença de desempenho entre os homens e as mulheres. Entretanto, no grupo de não-atletas, o desempenho dos homens foi bem melhor do que o das mulheres. Ou seja, parece que o esporte iguala os gêneros em termos do desempenho mental. Em outras palavras, no esporte de alto rendimento (pelo menos no voleibol), parece não haver diferença entre o cérebro de uma mulher e o cérebro de um homem.
Mas uma questão crucial permanece: atletas são superiores por causa do treinamento ou por causa de alguma vantagem genética? É inato ou aprendido? Provavelmente um pouco de cada coisa. Novas pesquisas precisam ser desenvolvidas no futuro para que se chegue a uma conclusão definitiva.
Os resultados desta pesquisa foram divulgados em diversos blogs no exterior e publicados na revista Frontiers ofMovement Science and Sport Psychology em 2013.
Onde saber mais?
http://blog.80percentmental.com/2013/03/thinking-faster-wins-olympic-medals-for.html#.VS1MO_nF9HU
http://news.illinois.edu/news/13/0318athlete_cognition_ArtKramer.html
http://www.axonpotential.com/testing-cognitive-skills-in-brazils-dominant-sport-volleyball/
Scoville WB, Milner B: Loss of recent memory after bilateral hippocampal lesions. J NeurolNeurosurgPsychiatry 1957; 20:11-21.
Disponível em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/13406589